Diz-se muitas vezes que o grau de fanatismo associado ao futebol de selecções é inferior ao que encontramos no futebol de clubes, o que está longe de ser uma verdade universal. E com maior ou menor paixão, certo é que também no contexto do Mundial as arbitragens motivam discussões acesas. E ao longo da História dos Mundiais não faltaram casos polémicos.
O Mundial do Oriente é um caso exemplar e ainda hoje espanhóis e italianos acusam a FIFA de ter levado uma das selecções organizadoras, no caso a Coreia do Sul, até aos últimos dias da competição. Primeiro foi o equatoriano Byron Moreno que, na lógica italiana, perdoou três expulsões (por agressões a Del Piero, Zambrotta e Maldini) e uma grande penalidade aos coreanos, invalidando mais tarde um golo aparentemente regular a Damiano Tommasi. Na eliminatória seguinte seguiu-se o egípcio Al-Ghandour, também ele permissivo ao jogo duro coreano e a confirmar inúmeras decisões erradas dos seus auxiliares a respeito do fora de jogo e não só.
Mas espanhóis e italianos também já estiveram do outro lado da barricada. No último torneio os australianos queixam-se da eliminação às mãos de Medina Cantalejo que, já em período de descontos, assinalou um aparente derrube a Fabio Grosso no interior da área. Doze anos antes fora o húngaro Sandor Puhl a fechar os olhos, quando o narigudo Mauro Tassoti rebentou o nariz a Luis Enrique com uma violenta cotovelada no interior da área italiana. Em 82, como anfitriões, os espanhóis beneficiariam de uma dupla decisão que evitaria a sua eliminação ainda na fase de grupos. Uma queda à entrada de área levou o dinamarquês Lund Sorensen a assinalar uma grande penalidade que Lopez Ufarte desperdiçaria. O árbitro considerou que Pantelic abandonara a linha de baliza antes de tempo e mandou repetir. Os jugoslavos garantem que o dinamarquês celebrou a conversão de Juanito.
Outras situações, por terem ocorrido no jogo decisivo da competição, ainda hoje são amiudemente comentadas. É o caso do célebre golo de Geoff Hurst na final de 66. Hoje sabemos que a bola não entrou depois de embater na trave, mas a dúvida persistiu durante anos, até na mente do atacante inglês: "A bola passou a linha? Não sei a resposta e julgo que nunca a irei saber." Só o suíço Gottfriend Deinst parecia seguro da decisão tomada: "Durmo tranquilo." O jogo estava no prolongamento e aquele golo permitia à Inglaterra adiantar-se no marcador. Terminaria com a vitória britânica por 4-2. Curiosamente, no seu percurso até à final, a RFA beneficiara de uma espectacular defesa a duas mãos do seu defesa Schnellinger.
Na Argentina ainda hoje se acredita que a derrota de 1990 está directamente ligada à influência do homem do apito. Não só se contesta a grande penalidade arrancada por Rudi Voeller, e que viria a garantir à RFA o título mundial após conversão de Andreas Brehme, como se garante que minutos antes o mexicano Codesal Mendez fechara aos olhos a um derrube de Lothar Matthaus ao avançado Gustavo Dezotti. Os alemães contestaram sempre a teoria de favorecimento, referindo uma potencial grande penalidade cometida sobre Klaus Augenthaler. Mas teriam os argentinos moral para se queixar depois da célebre Mão de Deus?
Contudo, não foram os ingleses, mas antes a URSS a dominar as queixas no Mundial do Mexico. Por duas vezes em vantagem nos oitavos-de-final, por duas vezes a viram anulada e acabaram derrotados por 4-3. Embora as imagens não o confirmem, os soviéticos defendiam que ambos os golos foram obtidos em fora de jogo, referindo, no caso de Ceulemans, um adiantamento de 5 metros.
"Queriam vencer, é natural. Mas eles fizeram disso algo óbvio de mais." A frase é do belga Jean Langenus, que apitou no mais infame dos Mundiais: o Itália 34. Em pleno domínio fascista, Benito Mussolini faria de tudo para garantir que o título ficava em casa e que alemães e austríacos - já "anexados ideologicamente" pelos nazis - chegassem às meias-finais. As arbitragens foram declaradamente favoráveis às nações de pendor fascista e Mussolini foi várias vezes visto a privar com os árbitros da competição., inclusivamente o que viria a apitar a polémica final. Só os checoslovacos conseguiram intrometer-se no quarteto semi-finalista e foram mesmo segundos classificados. Para muitos, a Checoslováquia foi a verdadeira Campeã do Mundo.