Aproveito o balanço do excelente post do Nuno Tadeu para partilhar a minha preferência alemã em Mundiais.
É engraçado como o tempo passa e a vontade de contarmos a mesma história nunca desaparece e vai enriquecendo em ciclos de vida que nos vão envelhecendo mais depressa do que queríamos.
No fim dos anos 80 no Liceu de Benfica já toda a gente sabia que eu era o que torcia pela Alemanha já que eu levava vestida a camisola da mannschaft muitas vezes.
Mais tarde nos locais de trabalho por onde passei quando chegava o verão dos anos pares lá explicava porque torcia pelos Alemães.
Ao longo da vida vi sempre colegas e amigos torcerem pela Argentina, Brasil, Inglaterra ou Itália. Muito poucos encontrei que gostassem da Alemanha.
A minha vida ficou marcada pelo Mundial de 1982 em Espanha. Foi o primeiro torneio que acompanhei com atenção e foi aí que percebi que adorava ver futebol além do Benfica. Nesse ano já ia a todos os jogos na Luz e estava habituado a ver futebol e a um Benfica vencedor. O Mundial era um bónus para ver o futebol de outros países, ver jogadores que raramente podia ver, conhecer outros que só conhecia de jornais e revistas ou cadernetas.
Apaixonei-me pelo Brasil do Zico, Sócrates, Éder e Falcão. Sofri bastante na tarde em que a Itália afastou o Brasil porque senti que o futebol pode ser muito cruel. Continuei a seguir o torneio e sem Brasil os meus olhos brilhavam com o futebol de Littbarski, Rummenigge, Fischer, Breitner, Stielike, Hrubesch ou do grande guardião Schumacher.
Também gostei de ver os craques franceses e italianos e não esqueci a excelente Polónia de Boniek que assinou maravilhoso Hat trick contra a Bélgica. Mas o futebol alemão ficou-me na retina.
Depois seguiu-se o Euro'84 e delirei com a carreira de Portugal. Era a primeira vez que via a nossa Selecção numa fase final tão importante. Dois anos mais tarde em 1986 tive tempo para ficar desiludido com o circo de Saltillo. E foi com naturalidade que continuei a seguir o Mundial olhando só para os outros países.
Queria o sucesso do Brasil porque ainda não tinha esquecido os jogos de 1982. Mas o Marrocos-Portugal estragou tudo. Não achei piada nenhuma a ver os adeptos brasileiros no México a torcerem por Marrocos e a festejarem à grande a nossa segunda derrota! Nem o facto dos africanos serem treinados por um brasileiro me fez mudar de ideias. Senti ali uma traição.
Uns dias mais tarde vi o França-Brasil e quando vi Zico entrar e sacar um penalti que metade da equipa festejou como se tivesse sido um golo para depois o próprio Zico falhar pensei que a minha vida não era apoiar aquele futebol. Os franceses afastaram o Brasil nos penaltis e na minha preferência. Nessa altura já só tinha olhos para Maradona. Vi todos os jogos da Argentina e fiquei para sempre rendido a Diego Maradona.
No entanto nunca fiquei agarrado à selecção argentina. Adorava o Maradona e por isso gostava de ver a Argentina como gostava de ver o Barça ou o Nápoles, desde que Maradona estivesse lá.
Entre 1986 e 1988 a minha vida mudou muito, turbulências familiares que me fizeram ver a vida de outra maneira e conhecer pessoas mais velhas que me ajudavam a a crescer o necessário na altura. Uma dessas pessoas é um amigo de infância da minha mãe que ao saber da minha paixão pelo Benfica e por futebol aproximou-se e alimentou muita desta loucura. Contou-me histórias do seu benfiquismo e mostrou-me como era vivido o futebol na Alemanha onde ele vivia há 20 anos. Começou a trazer-me resumos gravados em VHS para eu conhecer a Bundesliga e alguns jogos da Alemanha. Passei a adorar o Hamburgo, cidade onde ele vivia, e alguns jogadores como o Klinsmann, na altura no Estugarda, ou o Matthaus, ou o grande Aughentaler.
O golpe final aconteceu no meu 15º aniversário quando ele me traz a novíssima camisola da Alemanha que tinha as cores da bandeira a atravessar o habitual branco. A camisola mais bonita que já vi em Mundiais chegou a Portugal uns meses antes de começar o Euro'88 que era jogado na Alemanha.
Quando começou o Euro'88 todos os meus colegas da Secundária de Benfica ficaram ruídos de inveja ao ver que eu já exibia aquela camisola há meses e que não se vendia por cá.
A Alemanha passou a ser a minha equipa mesmo porque , mais uma vez, em 1988 não houve apuramento português. O Euro'88 não correu muito bem porque a laranja mecância do Gullit levou tudo à frente mas a espera foi curta.
Em 1990 em Itália as camisola alemãs lá continuavam a espalhar encanto no Mundial com uma senhora equipa. Foi com euforia que festejei a carreira alemã e a vitória na final contra a Argentina. Revia-me tanto naquele futebol e naqueles jogadores. O trio interista Matthaus- Brehme - Klinsmann e todos os outros. Adoptei aquela selecção e o facto de ser sempre olhado de lado quando digo que torço por eles dá-me ainda mais gozo.
A partir daí compro quase sempre as camisolas alemãs e torço sempre por eles. Só no último Mundial é que fiquei triste quando Portugal caíu aos pés de Ballack e companhia.
Já não há Klinsmann mas houve sempre grandes jogadores na Alemanha que raramente deixaram mal quem os apoiou.
Com a evolução da Bundesliga e as naturalizações o futebol da selecção também se modificou e este ano apresenta uma mescla muito interessante de ser seguida. Há consagrados no meio de miúdos que o mundo nem conhece.
Hoje entra em campo a Alemanha e tal como acontece sempre desde 1988 eu vou torcer por eles. Tudo por causa do amigo Pedro Macedo a quem deixo aqui um forte abraço.