Num grupo dominado pelo favoritismo incontestável da Alemanha, existe a natural expectativa de saber qual das restantes selecções reúne melhores argumentos para perseguir o sonho dos oitavos-de-final. Apesar de uma ligeira supremacia (teórica) favorável à Sérvia, a selecção do Gana conta com óptimos executantes e a Austrália também acalenta o desejo de seguir em frente. Por tudo isto, esta partida entre europeus e africanos poderia deixar algumas indicações quanto ao desfecho do grupo D, onde três outsiders lutam contra a poderosa força germânica.
À partida, na bolsa de apostas, a Sérvia partia com ligeira vantagem. Liderada desde o banco pelo experiente Radomir Antic, treinador sérvio com percurso notável em Espanha, onde foi campeão pelo Atlético de Madrid há quinze anos, esta equipa, fiel representante de um tipo de futebol requintado tecnicamente, à imagem da antiga Jugoslávia, conta com jogadores brilhantes do meio-campo para a frente. À dupla de avançados, Pantelik e o 'gigante' Zigic, junta-se o perigoso Krasic e capitão Stankovic, polivalente centrocampista do Inter de Milão. Na defesa, igual presença de atletas consagrados: Ivanovic (Chelsea), Vidic (Man Utd), Lukovic (Udinese) e Kolarov (Lazio), lateral esquerdo muito pretendido pelo Real de Madrid de José Mourinho. Tudo apontava para que, com maior ou menor dificuldade, a Sérvia levasse de vencida a selecção conhecida como os 'Estrelas Negras'.
Porém, do lado africano, mesmo sem a presença da sua maior estrela, o médio Essien do Chelsea, nota-se a evolução táctica desta equipa, pontuada pela qualidade individual dos seus intérpretes. Curiosamente, também um sérvio no banco a liderar os destinos desta selecção. Seu nome? Milovan Ravejac. Por esta hora, persona non grata no seu país de origem. Se na 1.ª parte o equilíbrio foi a nota dominante, na 2.ª parte o ritmo africano, acompanhado pelas ruidosas vuvuzelas, marcou a música que se ouvia no relvado. O Gana surgiu muito forte no início do segundo tempo, com maior posse de bola, atrevimento ofensivo, mas sem descurar o sector mais recuado. Depois, vieram dois minutos fatídicos: o 74 e o 84. A história do jogo mudou por completo.
Em mais uma iniciativa dos 'Estrelas Negras', o central sérvio Lukovic agarra um adversário, acabando por receber o 2.º cartão amarelo e consequente ordem de expulsão. A Sérvia fica a jogar com 10 jogadores e Radomir Antic não hesita: tira o médio esquerdo Jovanovic, muito apagado, entrando o central Subotic para que a defesa fique reposta com o habitual quarteto. De pouco adiantou. Passados dez minutos, nova contrariedade: num lance que partiu do lado esquerdo do ataque do Gana, o recém-entrado Kuzmanovic mete a mão à bola na grande área e o árbitro assinala a marcação de grande penalidade. O avançado do Rennes, Asamoah Gyan é chamado a converter e, diante de Stojkovic, bem conhecidos dos portugueses, marcou o golo que decidiu o resultado. Por fim, ao 3.º dia, uma equipa africana vence uma partida, depois de África do Sul (empate 1-1 com México), Nigéria (derrota 0-1 com Argentina) e Argélia (derrota 0-1 com Eslovénia), não terem conseguido a mesma sorte.
Em conclusão, a Sérvia terá de melhorar muito se pretender continuar a ter esperanças na passagem à fase seguinte. A equipa esteve demasiado presa no seu 4x4x2 clássico e falta, claramente, maior criatividade e mobilidade na criação de mais, e melhores, oportunidades de golo. Quanto à equipa africana, revelou-se uma agradável surpresa e deve ser uma selecção a ter debaixo de olho. Relembro que no ano passado, o Gana conquistou o campeonato do mundo de sub-20, vencendo o sempre favorito Brasil na final. Aliás, neste lote de 23 jogadores, alguns são provenientes dessa equipa campeã, donde se destaca o capitão desse torneio, o jovem de 19 anos Andre Ayew. Quem sabe não estará aqui uma das revelações deste certame?
Homem do jogo: Asamoah GYAN