Apontada como uma séria candidata ao pódio, a selecção inglesa defraudou uma enorme legião de adeptos, ao empatar no seu primeiro jogo do grupo C. Apesar do incrível ‘frango’ do guarda-redes Robert Green, o objectivo de ir longe na competição não está perdido e espera-se, somente, um acréscimo exibicional mais vincado. Neste sentido, a quilómetros de distância, aqui fica o meu recado para o homem (italiano) que lidera os destinos ingleses: um losango para Capello.
Ao contrário do post anterior, onde a imagem ilustrava o desenho táctico implementado por Maradona na estreia da Argentina, o grafismo que podem observar pretende representar uma possibilidade em aberto para os jogos seguintes, nomeadamente frente à Argélia. Um dos pecados apontados à Inglaterra prendeu-se com a rigidez do seu 4x4x4 clássico e na dificuldade dos médios (e avançados) jogarem próximos, em futebol apoiado e passível de criar rupturas na linha defensiva contrária. Assim, um sistema moldado em losango, poderia trazer vantagens acrescidas ao jogo inglês. Vejamos quais os factores positivos que estão em causa.
1. Triângulo Barry – Gerrard - Lampard
Vários analistas, como Luís Freitas Lobo, chamaram a atenção a sobreposição de funções entre Gerrard e Lampard, excessivamente centralizados no mesmo espaço. Efectivamente, tratam-se de dois jogadores de eleição, porém demasiado semelhantes nas características e forma de jogar. A entrada de Barry, como âncora do meio-campo, permitiria libertar os jogadores para acções de condução e organização colectiva. Com a seguinte ressalva: o capitão do Liverpool ficaria encarregue de zonas do relvado na meia-direita, enquanto o centrocampista do Chelsea pisaria terrenos no corredor contrário. Em suma, este triângulo sentir-se-ia confortável na gestão do ritmo de jogo e disfarçaria o choque táctico entre Gerrard e Lampard.
2. Liverpool, lado direito – Chelsea, lado esquerdo
Um aspecto raramente analisado, e exaltado, pela crítica futebolística, diz respeito às pequenas ‘sociedades’ que se podem identificar nas quatro linhas. É sabida a dificuldade que a grande maioria dos seleccionadores sofre, na tentativa de conciliar talento e personalidade em doses, por vezes, tão díspares. Ainda por cima, trata-se de um esforço realizado com os olhos nos ponteiros do relógio, devido ao escasso tempo de preparação. Na minha humilde opinião, encaro como um sinal de inteligência a transferência de sinergias vindas dos clubes de origem. No fundo, foi o que Scolari executou, no passado, ao apostar em jogadores que compunham a espinha-dorsal do FC Porto de José Mourinho. Ou, num caso mais recente, também com benefícios visíveis, a direcção escolhida pelo seleccionador alemão, ao eleger cinco atletas do Bayern de Munique para o onze titular (Lahm, Badstuber, Schweinsteiger, Muller e Klose). Por tudo isto, o esquema táctico que dá cor a esta crónica não foi pensado ao acaso: inclinado à direita, um trio chamado Liverpool (Johnson, Carragher e Gerrard); descaído para a esquerda, idêntico triângulo apelidado Chelsea (Cole, Terry e Lampard). Esquematizar um modelo de jogo com estas cumplicidades futebolísticas (pequenas ‘sociedades’) pode ser um óptimo ponto de partida para uma maior fluidez colectiva.
3. Joe Cole e a alternativa 4x3x3
O criativo médio inglês é o jogador indicado para assumir o papel de 10, de acordo com o número que enverga no Chelsea. Desconheço a sua condição física actual, mas o futebol latinizado de Joe Cole pode transmitir o toque de classe extra que a selecção inglesa necessita. Principalmente para, servindo de apoio vertical às investidas de Gerrard e Lampard, potenciar maior acutilância no assalto à defensiva contrária, através de passes de ruptura e diagonais curtas. Outro aspecto, não menos importante, diz respeito à maleabilidade táctica que a imagem esclarece, ou seja, com posse de bola, a presença de Joe Cole permite materializar um 4x3x3 (a seta para o lado esquerdo, junto ao triângulo ‘Chelsea’, não é inocente), com Rooney a gozar de maior liberdade na descoberta de espaços vazios e Heskey interpretando o papel principal de homem de referência.