Na presente competição, a Alemanha já provocou sensações distintas: da vitória (do céu) fácil e vibrante sobre a Austrália, até à derrota (ao inferno) algo surpreendente frente à Sérvia. Para o jogo decisivo perante o Gana, adversário de respeito e líder do grupo D com 4 pontos, a dúvida coloca-se: que Alemanha teremos a oportunidade de observar? Estou em crer que estaremos diante de uma equipa autoritária e potente, embora com uma tarefa que se afigura complicada: exige-se que as habituais virtudes germânicas, máxima frieza e concentração, aliadas a um futebol mais latinizado, estejam a um nível apurado. À partida, essa face dominadora mais visível será suficiente para o objectivo chamado oitavos-de-final.
Estruturada em 4x2x3x1, Joaquim Low adoptou novos atributos associados a um futebol mais elaborado do ponto de vista técnico, porém sem descaracterizar a matriz habitual da Alemanha. Mantendo-se fiel à identidade futebolística de selecções antecessoras, o seleccionador tem conseguido esculpir um novo conceito futebolístico, assente em valores emergentes com uma abordagem ao jogo mais criativa. Refiro-me, obviamente, aos jovens talentos Mezut Ozil e Thomas Muller que, mesclados com jogadores mais experientes, dão um toque extra de rebeldia a um colectivo que sempre se regozijou por características mais disciplinadas, mas igualmente louváveis. Vale a pena desenvolver alguns pontos fundamentais que espelham a nova concepção da “Mannschaft”.
1. Entrosamento
Não me canso de enaltecer este aspecto: transferir sinergias dos clubes (princípios de jogo adquiridos) para a selecção contribui positivamente para o aumento da qualidade exibicional. No actual onze-base, normalmente titular, este registo de entrosamento encontra eco em vários jogadores do Bayern de Munique: Lahm, Badstuber, Schweinsteiger, Podolski e Klose, ou Mario Gómez. À primeira vista pode não parecer importante, mas em determinadas situações de jogo (passe – recepção – desmarcação) são detalhes que podem fazer a diferença. Curiosidade final: sabiam que os 23 seleccionáveis actuam todos na Alemanha? Em iguais circunstâncias, julgo que só a Itália.
2. Juventude
Em certa altura, principalmente após a conquista do mundial em 1990, a “Mannschaft” foi criticada por ser uma selecção envelhecida, com evidentes dificuldades de recrutamento (leia-se rejuvenescimento) de novos talentos emergentes. No presente, esta aposta tem dado os seus frutos, numa interessante mescla com alguma experiência, como se prova através do bom desempenho do Bayern de Munique na época que findou. Olhemos a alguns números (idade) relativos à equipa principal: Neuer (24), Lahm (26), Friedrich (30), Mertesacker (25), Badstuber (21), Khedira (23), Schweinsteiger (25), Muller (20), Ozil (21), Podolski (24) e Klose (31). A média de idades é bastante simpática: 24,5 anos. Por sua vez, se trocarmos Klose (castigado) por Mario Gómez (24), então a média ainda desce para 23,9 anos. A juventude, e sede de vencer, representam uma marca deste selecção.
3. Talento
Voltemos ao ponto de partida. O futebol alemão (de selecções) sempre teve uma imagem de marca: a de uma equipa no relvado profundamente cerebral, concentrada, eficiente, objectiva, organizada e rigorosa. Os adjectivos são vastos. A versão 2010 não perdeu, necessariamente, nenhuma destas características, mas acrescentou outras de elevada capacidade. Principais responsáveis: Muller e Ozil, os magos germânicos. Ainda muito jovens, pertencentes à nova fornada alemã, apesar de serem diferentes na tendência de jogo, ambos partilham de mais-valias associadas a aptidões como engenho, habilidade, imaginação e vocação ofensiva. Liberdade criativa em movimento.
Em suma, a ‘máquina’ alemã mantém-se robusta, porém guarnecida com modernos conceitos de jogos apoiados numa concepção futebolística mais atractiva: um ‘gadget’ de última geração, personificado na “Mannschaft” de Low.