Depois do texto que fiz sobre a derrota de Portugal diante da Espanha, para fechar o ciclo de Portugal no Jabulani, até porque amanhã começam os quartos de final e há muito jogo bom para nos deliciarmos, cumpre-me alguns esclarecimentos relativamente a tudo o que foi dito nestes últimos dias, onde imagine-se o blog Jabulani foi visitado por quase 15.000 pessoas em pouco mais de 24 horas.
Em 22 de Junho de 2008, após a eliminação do Europeu diante da Alemanha por 2-3, Gilberto Madaíl anunciava que Scolari já estava com as malas preparadas ainda antes do Europeu, faltou coragem (nunca a teve) para o principal responsável federativo vir a público dizê-lo antes da competição se iniciar. Há muito que desejo a saída de Gilberto Madaíl da Federação, mas isto não será uma novidade para ninguém e quase todos o desejam. É um elemento fraco. A partir desse dia começou a procura do novo seleccionador, aquele que iria conduzir os destinos da selecção até pelo menos ao Mundial de 2010 na África do Sul.
No dia 11 de Julho é anunciado o novo Seleccionador Nacional, Carlos Queiró. Na altura não fiz nenhum tipo de comentário apenas reconheci o que todos sabiam, era o regresso a uma casa que bem conhecia. A Malta foi o primeiro adversário na qualificação para o mundial, a primeira vitória por 4-0, primeiro comentário onde me enganei claramente "Já estamos em primeiro lugar do grupo, e no mínimo não devemos sair de lá até ao final desta fase. Não me convenceram nesta selecção Antunes, Carlos Martins. Tenho dúvidas em Raul Meireles e Simão". Ainda a prova estava no seu início e já manifestava algum desagrado por Simão, não por detestar a pessoa em questão, porque para mim quem veste a camisola da selecção é de Portugal. Simplesmente porque sempre achei que o Simão na selecção não conseguia ser regular. Em Setembro acontece o primeiro desaire de Queirós, as primeiras críticas, a derrota diante da Dinamarca. Foi um jogo absurdo, e apesar do diferendo que havia entre o Professor e o Sporting, não deixei de o salientar "A face da derrota é Carlos Queirós. Teve mais que tempo para remediar o jogo quando ainda vencíamos por 1-0. Antes que se pense que estou a dizer isto por causa do diferendo com o Sporting, eu sempre gostei do trabalho do Professor. Não confundo as coisas.". Mais tarde novo desaire, 15 de Outubro de 2008, empate em casa com a Albânia e 3 jogos sem vitórias, "Já não me lembrava de ver Portugal jogar tão mal. Que exibição péssima. Carlos Queirós ainda vai ter muito trabalho pela frente. Muito mesmo, 3 jogos sem ganhar em 4 numa fase de qualificação para o Mundial. Começa a ser preciso um computador para começar a fazer as contas." Mais tarde, no célebre amigável contra o Brasil onde fomos copiosamente derrotados por 6-2, uma alusão a "Scolari acabou de ser dispensado do Chelsea. Se queremos ir ao Mundial de 2010, não era má ideia... ".
Eu sou um apoiante da Selecção e não me passava pela cabeça que não pudéssemos estar presentes no Mundial, critique variadíssimas vezes Queirós e não apenas no jogo dos oitavos de final contra a Espanha como chegou a ser sugerido. A seguir veio o processo Liedson. Aqui devo lembrar que deixei-me levar pela clubite. Já o tinha referido, aliei a necessidade da selecção de ter um ponta de lança com valor ao facto de gostar e muito do "levezinho". Hoje, devo admitir que seja por erro táctico ou simplesmente pela má forma do jogador, Liedson pouco acrescentou à Selecção. A primeira convocatória de Liedson na Selecção foi anunciada a 26 de Agosto de 2009, a menos de 1 ano do mundial. Liedson para mim nessa altura foi um passo importante para a Selecção e lembro um texto que concordei do Daniel Oliveira. Liedson marcou no primeiro jogo, diante da Dinamarca, uma partida importante para manter as aspirações de nos qualificarmos para o Mundial. Nessa altura, acreditava que a Selecção poderia crescer de forma, os golos iriam surgir com naturalidade, já imaginava Liedson titular indiscutível. Raramente me referia ao trabalho de Queirós, mesmo continuando ser sofrível ver os jogos de Portugal. Foi também por esta altura que me deixei levar por discussões entre Sporting e Benfica, por causa de Liedson, Queirós, as relações FPF e os homens do Sporting, a descredibilização do trabalho estrutural que seria necessário fazer na selecção, não pensar no longo prazo nas consequências de um mundial falhado, como acabou por se verificar, e naturalmente levei com as críticas que apesar de tudo, mereci.
Portugal consegue a qualificação para o play off após vitória por 4-0 diante da Malta e derrota a Bósnia para rumar a África. O apuramento estava conseguido, uma boa notícia, uma alegria porque adoro a Selecção, mas os problemas continuaram. No dia em que o feito foi conseguido, obviamente não critiquei Queirós nem ninguém, o objectivo apesar da dificuldade tinha sido atingido, "Apuramento conseguido, lugar guardado na África do Sul e agora no próximo verão atenções mais que redobradas para a competição que marcará o futebol em 2010".
Quando Queirós revelou a lista de convocados para o mundial, as únicas críticas que fiz foram apenas estas:
"As surpresas foram: Moutinho de fora; excesso de jogadores defensivos, Ricardo Costa e Zé Castro; o anão Beto, sem nada que o justificasse; Miguel;".
Já em terras Africanas, com o Mundial prestes a começar e já neste blogue na antevisão do grupo de Portugal, disse "Contamos que a presença seja aceitável, na minha opinião chegar aos quartos de final (a partir daí tudo será positivo) é o objectivo mínimo." Daí que tenha referido no texto do jogo Portugal-Espanha que Carlos Queirós não tinha atingido os objectivos mínimos que eu acharia aceitável. Obviamente que podem não ser os mesmos que a entidade patronal de CQ, mas no lugar dele teria colocado o lugar à disposição e depois a FPF que decidisse o que fazer. Ainda ontem ouvi o Luís Freitas Lobo dizer que não fazia sentido Queirós demitir-se e que é o homem certo no lugar certo, é uma opinião.
Fizemos uma fase de grupos sofrível, escondida pela vitória diante da Coreia do Norte, mas lembre-mo-nos que não marcamos golos nem à Costa do Marfim, Brasil e Espanha, logo seria complicado fazer muito mais. As críticas que fiz após o jogo, a quente, são de alguém que acreditava que naquele dia apesar de tudo poderíamos vencer a Espanha. Não o conseguimos, frustrado por tal evidência e certamente de forma inconsciente porque percebi que rapidamente "as críticas" iam chover, descarreguei de forma pouco natural. Aceito e faço mea culpa em relação a esse texto, mas devo dizer que afinal não são tantas as incoerências porque eu nunca fui um grande apoiante de Queirós. Eu aceitei-o sempre como treinador da Selecção e como apoiante de Portugal fui "cego" ao ponto de acreditar que um milagre poderia acontecer.
Fechou um ciclo. Há que preparar uma nova vida rumo ao Europeu de 2012. Como vai ser? Aguardemos que ainda há muita poeira no ar!