"À terceira é de vez", diriam os holandeses mais optimistas, sentimento justificado por não verem a sua selecção perder um jogo oficial desde a eliminação do Euro'08. Mas se a Oranje conseguiu anular a Espanha em alguns períodos, raramente se conseguiu superiorizar . A esta geração, menos exuberante, coube o mesmo destino que o da famosa Laranja Mecânica.
As próximas semanas serão dolorosas para todos, mas em particular para Robben, o homem que poderia ter sido herói e acaba sob o risco, injusto, de vir a ser considerado o vilão. O esquerdino teve duas oportunidades para marcar na segunda parte, a primeira delas flagrante e que seguramente terá colocado um País a gritar um golo que não se materializou. Mas não foi por ali que o jogo se definiu.
A Holanda entrou com o 11 que logo fora alinhado na numeração das camisolas e com a ambição de anular o futebol espanhol na primeira fase de construção. Não correu o risco, desnecessário, de pressionar a zona defensiva, mas tentou, fixando o quarteto mais avançado no meio-campo adversário, condicionar ao máximo a actuação de Busquets, Xavi e Xabi, enquanto Iniesta era marcado individualmente na outra metade do terreno. A opção era lógica e surtiu algum efeito. Mas destapou as laterais e após uma bola parada que forçou Stekelenburg a exibir os seus dotes aos 5 minutos, a Holanda passou por alguns calafrios.
As acções defensivas de De Jong e Van Bommel, aliadas ao jogo duro da generalidade dos holandeses, re-equilibrou a contenda, mas o médio do Bayern nunca conseguiu dar apoio ofensivo a Sneijder, hoje com dificuldade em pegar no jogo. Kuyit raramente apareceu e todo o jogo ofensivo ficou sobre as costas de Robben. O extremo bem tentou, ainda obrigou Casillas a uma boa defesa à beira do intervalo, mas sozinho não poderia garantir o sucesso.
A acumular cartões em excesso, a Holanda entrou mal na segunda parte. Incapaz de assegurar a posse de bola, ainda viu Robben repetir o movimento com que encerrara a primeira parte. Mas o acerto defensivo desvanecia-se com o passar dos minutos e as preocupações individuais abriram o corredor direito a Villa e companhia. Adensava-se o perigo junto da baliza de Stekelenburg enquanto Robben remava contra a corrente. Só ele obrigava Casillas a manter a atenção sobre o jogo. E quando os treinadores começaram a trocar de médios, procurando maior propensão ofensiva, a Holanda ficou definitivamente fora de jogo.
No prolongamento já não houve pernas holandesas para contrariar a pressão crescente que a Espanha impunha. A expulsão só veio dar razão a quem olhava a para a tv e já não acreditava nas grandes penalidades. Caiu de pé a Holanda, mas ficará sempre a ideia de que poderiam ter feito mais. Muito mais.