Falar do imperador do futebol é falar de Franz Beckenbauer. O “Kaiser”, como era conhecido, foi uma alcunha ganha pela forma como jogava e fazia jogar na selecção ou no “seu” Bayern Munich. Percurso notável conseguido com muito suor e lágrimas. Pelo meio da caminhada vitoriosa, na história destes grandes nomes do futebol, há sempre um momento que é preciso renascer de uma derrota épica. Franz, venceu 1 campeonato do Mundo, 1 campeonato da Europa e ajudou o Bayern a vencer por 3 vezes a taça dos campeões europeus.
A estreia de Beckenbauer em Mundiais foi em 1966. De boa memória para outro grande jogador nacional, Eusébio, e de certa forma de má memória para os alemães que perderam a final contra a Inglaterra, de forma bem estranha! Mas como o próprio já mais tarde admitiu, com aquela idade ser vice-campeão mundial afinal não é assim tão mau. E já agora, porque mais tarde, melhores recordações apareceram na sua vida, no mundial da sua estreia ainda conseguiu marcar 2 golos numa vitória por 5-0 sobre a Suiça.
Beckenbauer definiu um estilo próprio. A sua forma de jogar como “libero”, que defendia muito bem, uma barreira quase intransponível e que quando tinha a posse de bole era o primeiro atacante da sua equipa, um impulsionador do jogo de ataque, formou uma nova realidade adorada por quase todos os que o viram jogar. Em 1970, de regresso aos Mundiais a sua presença foi tornada épica. A Alemanha nas meias finais jogava contra a Itália e a vitória valia uma lugar na final para defrontar o Brasil. Da época, dizia o jogador que “O torneio de 1970 foi magnífico. Os fãs eram fanáticos e a segurança do estádio não era tão intensa naqueles dias. Você podia fazer quase tudo o que quisesse. Havia apenas um policial armado que se sentava na entrada e vigiava todo o estádio. É claro que isso seria inadmissível actualmente. Naquele tempo, tudo era mais tranquilo. Os jogos no México eram cheios de cores. O país sorria e o futebol era uma dança”.
Desse jogo contra a Itália, um golo bem cedo dos Italianos levou a que a Alemanha tivesse de correr atrás do prejuízo. Não era fácil. As duas selecções praticavam um futebol muito directo, pouco exuberante mas pleno de eficácia. E com o golo madrugador da Itália, tudo seria bem mais complicado para os alemães. Mas estava para acontecer algo, que iria “imortalizar” este jogo. Beckenbauer lesionou-se, deslocando o ombro. Saiu do campo para ser assistido, provavelmente hoje em dia era substituído e não voltava mais. Mas o “Kaiser” não poderia abandonar os seus companheiros naquela “batalha”, regressou ao campo com o braço ao peito e ainda conseguiu que a sua selecção levasse o jogo a prolongamento, um golo a 6 minutos do fim. Nos 30 minutos que se seguiram de tempo extra, já com as duas selecções sem força e descontroladas tacticamente, o jogo resultou num 4-3 para a Itália. A Alemanha não conseguia chegar à final, mas Beckenbauer tinha chegado ao “Olimpo” dos imortais do futebol.
Em 1974, o Mundial jogou-se em casa, leia-se Alemanha. Beckenbauer tinha aos seus ombros, a responsabilidade de conquistar o título perante o seu público, e os germânicos não lhe permitiam outra coisa que não a vitória. O “Kaiser” jogou nesse mundial, numa posição revolucionada por ele, era um verdadeiro libero recuado. Ele organizava a equipa na retaguarda, mas avançava com ela quando era necessário, e simplesmente não sabia quando parar! Não se segurava! Com Beckenbauer, também Gerd Müller, Paul Breitner, Wolfgang Overath, entre outros, resistiram à pressão e levaram a Alemanha ao primeiro título mundial. O “Kaiser” levantava o novíssimo troféu, (em 1970, o Brasil venceu a Taça Jules Rimet, último a ser entregue), depois de uma vitória frente à Holanda por 2-1. Como na sua carreira, onde também teve de chorar e sofrer, nesta final, um novo herói estava na calha, de seu nome Cruyff! Lágrimas na coroação do eterno capitão da Alemanha. Em 1974, Beckenbauer era novo imperador do mundo!