Terça-feira, 29 DE Junho 2010

Football Fans Know Better

Espanha, próximo adversário de Portugal nos oitavos-de-final. Nas linhas seguintes, analisaremos os prós & contras de ‘La Roja’ e qual a abordagem estratégica que a selecção nacional deverá optimizar. Antes, recuemos até 2008, quando a Espanha sagrou-se campeã europeia.

Na altura, durante a fase de grupos e quartos-de-final, Luis Aragonés era apologista de um 4x1x3x2, com Senna pivot (defensivo), um trio formado por David Silva (esquerda), Iniesta (direita) e Xavi (ao centro), ficando Torres e David Villa na frente de ataque. A partir dos quartos-de-final, com a lesão do avançado do Valência, a equipa mudou para um elástico 4x1x4x1, imagem de marca da selecção espanhola. Recordo o onze-base na final contra a Alemanha: Casillas, Sergio Ramos, Puyol, Marchena e Capdevila; Senna, Iniesta, Xavi, Fàbregas e David Silva; na frente, Torres. Dois anos passaram, mas desta equipa para a actual (que jogou diante do Chile), apenas mudaram 4 caras: Piqué em vez de Marchena, Busquets por Senna, Xabi Alonso em vez de Fàbregas e David Villa por Silva. Portanto, salvo uma ou outra alteração pontual, esta geração de jogadores pode continuar a fazer história.

Curiosamente, o seleccionador Del Bosque começou a competição de forma semelhante à final do Euro 2008, ou seja, com a equipa disposta em 4x1x4x1. De então para cá, as únicas novidades prendem-se com o seguinte: opção por Xabi Alonso, em detrimento de Fàbregas e saídas de Marchena e Senna, com entrada directa de Piqué e Busquets, respectivamente. Porém, a derrota com a Suiça alterou os planos e houve como que uma espécie de regresso ao passado, com a aposta em Torres. A Espanha precisava de maior poder de fogo, ficando David Villa inclinado na esquerda (diagonais interiores) e Jesús Navas (vs Honduras) ou Iniesta (vs Chile) com responsabilidade no corredor contrário. Presentemente, ‘La Roja’ actua num 4x3x3, com meio-campo em «1x2» quando em posse de bola, mas também desenha um 4x1x4x1 em organização defensiva, recuando os extremos para zonas mais atrasadas.

O retrato (táctico) do antes e depois está feito. Porém, em termos de futebol desenvolvido existem algumas diferenças. Em 2008, os campeões europeus mostraram argumentos na vertente táctica e criatividade suficiente para explanar as qualidades técnicas individuais. No presente, a escolha por determinados jogadores tem bloqueado a fluidez nos movimentos de transição e circulação de bola. Razões para tal? O espaço entre-linhas nem sempre é bem preenchido, pois Del Bosque tem demorado a encontrar os homens certos para os lugares de meio-campo: Busquets, Xabi Alonso e Xavi parecem intocáveis, mas também já jogaram Jesús Navas, Iniesta, Fàbregas e David Silva. Creio que o equilíbrio ainda não foi encontrado, pois Busquets e Xabi Alonso são médios de contenção e Iniesta e Fàbregas, por exemplo, têm outros argumentos (qualidade de passe em ruptura) ofensivos. Vejamos, agora, quais os prós & contras da actual selecção espanhola.

1. Pontos fortes

A principal mais-valia prende-se com a qualidade individual dos elementos, todos eles jogadores em equipas de topo como o Barcelona, o Real de Madrid, o Valência, o Arsenal (Fàbregas) e o Liverpool (Torres). Por outro lado, a espinha-dorsal mantém-se e o onze-base tem vindo a ser construído sem grandes oscilações, pelo que os princípios de jogo encontram-se bem definidos e assimilados por todos. Em termos estratégicos, existe o lado colectivo (vários ‘arquitectos’ de um futebol baseado em passe - recepção - desmarcação) e o lado individual, com o avançado David Villa a assumir-se como a ‘peça’ mais temível: 3 golos marcados até ao momento. Observando a imagem, verificamos que a nova contratação do Barcelona parte da esquerda, desenvolvendo diagonais interiores para dentro da grande área adversária. Ora, é precisamente desse lado que Portugal apresenta maiores vulnerabilidades, tendo já actuado 3 jogadores na lateral direita: Paulo Ferreira (vs Costa do Marfim), Miguel (vs Coreia do Norte) e Ricardo Costa (vs Brasil). Qual será a melhor solução para travar David Villa?

2. Pontos fracos

Nem sempre visíveis, todas as equipas (selecções) aparentam uma ou outra debilidade. Cada fraqueza pode estar associada a um aspecto específico, como dificuldade nos lances de bola parada, por exemplo. Depois, existem pontos nevrálgicos (corredores) mais sujeitos às investidas contrárias. No caso espanhol, o eixo central composto pelo trio do Barcelona Piqué - Puyol - e Busquets, reúne mecanismos de entrosamento que garantem grande fiabilidade defensiva. Por sua vez, o corredor direito, com Sergio Ramos, apresenta maior consistência do que a faixa contrária, onde Capdevilla já não tem a destreza física do passado. Assim, talvez a melhor forma de derrubar o ‘muro’ espanhol seja colocar Cristiano Ronaldo bem inclinado do lado direito do ataque português, de forma a explorar os 32 anos do defesa do Villarreal. Quem sabe se não estaria nesse duelo 1v1 a chave para o sucesso dos oitavos-de-final.

3. Que estratégia para Portugal?

Com uma margem de erro reduzida, Del Bosque irá apresentar o prevísivel onze titular: Casillas, Sergio Ramos, Piqué, Puyol e Capdevila; Busquets, Iniesta, Xavi, Javi Martínez ou Fàbregas e David Villa; por fim, Torres como homem mais avançado. Creio que Portugal teria a ganhar em jogar num 4x4x2 losango, com o seguinte onze-base: Eduardo, Ricardo Costa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Fábio Coentrão; Pedro Mendes (n.º 6), Tiago (meia-direita), Raul Meireles (meia-esquerda), Deco (n.º 10); Cristiano Ronaldo (solto na meia-direita) e Liedson. Porquê estas opções? De forma muito sucinta: (i) Ricardo Costa porque o defesa já contratado pelo Valência é, de longe, o que se encontra melhor preparado (física e mentalmente) para travar as diagonais de David Villa; (ii) 4x4x2 losango porque o meio-campo espanhol conta com jogadores de grande qualidade técnica (posse de bola) que necessita de ser travado, impedindo a superioridade numérica do adversário; (iii) Cristiano Ronaldo solto na frente de ataque, ao invés de estar ‘colado’ a uma ala, de forma a retirar o melhor aproveitamento do seu talento ofensivo; e, (iv) Liedson porque trata-se de um avançado mais complicado de marcar, para além de ser muito útil na transição defensiva e na hora de pressionar, por exemplo, as saídas de bola de Piqué. Esta seria a estratégia inicial. No decorrer do jogo, consoante as circunstâncias do mesmo (e o desenrolar do resultado), uma das soluções possíveis passaria pela entrada de Simão, uma espécie de ‘joker’ preparado para transmitir maior atrevimento atacante. Comentários?

publicado por stadium às 11:56
Segunda-feira, 28 DE Junho 2010

Football Fans Know Better

Não estranhem a imagem. Sabe-se que o treinador holândes é adepto do 4x2x3x1: linha defensiva a 4, duplo pivot no meio-campo, um trio de médios mais orientados para o ataque e, na frente, isolado perante os centrais contrários, o virtuoso Van Persie. De facto, o esquema acima representado não pretende espelhar os traços dominantes desta equipa que compete na África na Sul, antes ilustrar uma concepção táctica mais de acordo com a sua tradição de futebol: um entusiasmante 3x4x3, típico da escola holandesa.

Bert van Marwijk imprimiu um cunho pessoal a esta selecção: óptimos resultados até ao momento (3 vitórias na fase de grupos, 5 golos marcados e, apenas, um sofrido), contudo com um nível exibicional algo longe de fascinar os chamados adeptos ‘românticos’. Existem, portanto, virtudes e pechas assinaláveis, cada qual na sua proporção e grau de importância.

Em primeiro lugar, esta equipa, não contando com defesas de qualidade elevada (topo europeu), acaba por ser sólida do ponto de vista defensivo. Para tal, muito contribui a adopção de um bloco mais baixo, permitindo melhor preenchimento dos espaços, e o apoio decisivo do duplo pivot no centro do campo: De Jong e o capitão Van Bommel. Esta garantia estrutural, no momento em que a bola está na posse do adversário, possibilita uma abordagem pragmática, mais orientada para o resultado e menos para o espectáculo.

Em segundo lugar, a opção por um modelo de jogo mais astucioso descaracterizou os principais fundamentos do ‘futebol total’: (i) circulação de bola no meio-campo adversário com precisão, a toda a largura do terreno e sem perda de eficácia; (ii) monopólio do ataque organizado, envolvendo vários jogadores no processo de construção e decisão ofensiva; e, (iii) no geral, privilégio cultural na prática de um futebol alegre, incisivo e vertiginoso ofensivamente, permanentemente virado para o golo.

Conclusão inicial: esta Holanda apresenta condições para ambicionar o máximo, mas corre o risco de baquear nos seus objectivos ao não respeitar a tradição da sua história futebolística. No meu entender, ‘laranja mecânica’ só em 3x4x3 (embora aceite o 4x3x3), pelo que passo a descrever a minha concepção ideal quando vislumbramos aquelas camisolas: laranja é sinónimo de (bom) futebol.

1. Posicionamento defensivo

Falta, a esta selecção, um central de grande nível mundial. Só com muito boa vontade se poderia afirmar que tanto Mathijsen, só utiliza o pé esquerdo, como Heitinga, reúnem um conjunto de atributos de excelência. Como tal, seguindo a ideia que só os melhores devem jogar, nada como retirar um deles para dar lugar a um colega mais talentoso. Apesar de tudo, prefiro o central do Hamburgo, pois considero que Heitinga denota imensas dificuldades (técnicas e mentais) para fazer frente a um avançado hábil e veloz. Esta defesa ainda não foi posta à prova, frente a um adversário de maior valia. Podem perguntar: então não seria um risco jogar só com 3 defesas? Claro que sim. Só que, por outro lado, isso também significa a existência de 4 médios e 3 avançados. Uma ‘laranja’ que se preze pensa no golo. E, se observarem o desenho, está lá De Jong para dar uma ajudinha defensiva.

2. Circulação de bola e transições

Uma vez mais, a imagem diz tudo: um losango, ligeiramente inclinado, preparado para controlar as transições (defensivas/ofensivas) e dominar a circulação de bola até à zona de finalização. Tudo parece estar no devido lugar. Em lados opostos, De Jong e Sneijder comandam as suas áreas de jurisdição, indo de encontro às tarefas que melhor se adaptam às suas características principais. Por seu lado, Van Bommel e Van der Vaart, são os pêndulos interiores que estreitam ou alargam o jogo a meio-campo, tendo a função conjunta de pisarem zonas do relvado mais à frente, ou atrás, consoante as circunstâncias assim o ditarem: em situação defensiva, o meio-campo equilibra-se em «3x1», com Sneijder menos envolvido na recuperação; em situação de posse, a equipa assume uma postura mais arrebatada em «1x3», ficando De Jong a preencher o espaço. Em síntese, um carrossel de futebol.

3. Mobilidade em largura e profundidade

Van Persie enfiado entre os centrais contrários? Desperdício. Por vezes, chega a ser confrangedor quando a selecção do país das tulipas nem sequer tem um homem na grande área adversária. Versatilidade de movimentos na fuga às marcações? Compreende-se. E quanto a ataque posicional? A Holanda não tinha por hábito privilegiar um futebol virado para a frente, sempre com 2 extremos bem abertos nas faixas e, pelo menos, 1 avançado centro? Marwijk tem imenso talento ofensivo ao seu dispor, pelo que a opção do 3x4x3 poderia resultar. O trio constituído por Robben, Kuyt e Van Persie acrescenta largura, profundidade, engenho individual no 1v1, técnica, velocidade e poder de fogo elevado. Depois, as ‘peças’ podem sempre mudar de posição, de maneira a confundir os defesas: Robben colocado no corredor esquerdo (mais por fora), com Kuyt desviado na direita (diagonais interiores) e Van Persie ao centro. Juntamente com Elia e Huntelaar, as possibilidades são vastas.

Em resumo, a actual selecção holandesa possui virtudes colectivas e qualidades individuais susceptíveis dos maiores feitos. A concepção de jogo suportada num esquema em 4x2x3x1, de grande consistência defensiva e rara inteligência táctica, merece alguns elogios. No entanto, esta ‘laranja’ mostra-se pouco sumarenta no atrevimento ofensivo e menos açúcarada no seu futebol. É a ‘clementina’ introduzida por Marwijk.

publicado por stadium às 11:02
Quarta-feira, 23 DE Junho 2010

Football Fans Know Better

Na presente competição, a Alemanha já provocou sensações distintas: da vitória (do céu) fácil e vibrante sobre a Austrália, até à derrota (ao inferno) algo surpreendente frente à Sérvia. Para o jogo decisivo perante o Gana, adversário de respeito e líder do grupo D com 4 pontos, a dúvida coloca-se: que Alemanha teremos a oportunidade de observar? Estou em crer que estaremos diante de uma equipa autoritária e potente, embora com uma tarefa que se afigura complicada: exige-se que as habituais virtudes germânicas, máxima frieza e concentração, aliadas a um futebol mais latinizado, estejam a um nível apurado. À partida, essa face dominadora mais visível será suficiente para o objectivo chamado oitavos-de-final.

Estruturada em 4x2x3x1, Joaquim Low adoptou novos atributos associados a um futebol mais elaborado do ponto de vista técnico, porém sem descaracterizar a matriz habitual da Alemanha. Mantendo-se fiel à identidade futebolística de selecções antecessoras, o seleccionador tem conseguido esculpir um novo conceito futebolístico, assente em valores emergentes com uma abordagem ao jogo mais criativa. Refiro-me, obviamente, aos jovens talentos Mezut Ozil e Thomas Muller que, mesclados com jogadores mais experientes, dão um toque extra de rebeldia a um colectivo que sempre se regozijou por características mais disciplinadas, mas igualmente louváveis. Vale a pena desenvolver alguns pontos fundamentais que espelham a nova concepção da “Mannschaft”.

1. Entrosamento

Não me canso de enaltecer este aspecto: transferir sinergias dos clubes (princípios de jogo adquiridos) para a selecção contribui positivamente para o aumento da qualidade exibicional. No actual onze-base, normalmente titular, este registo de entrosamento encontra eco em vários jogadores do Bayern de Munique: Lahm, Badstuber, Schweinsteiger, Podolski e Klose, ou Mario Gómez. À primeira vista pode não parecer importante, mas em determinadas situações de jogo (passe – recepção – desmarcação) são detalhes que podem fazer a diferença. Curiosidade final: sabiam que os 23 seleccionáveis actuam todos na Alemanha? Em iguais circunstâncias, julgo que só a Itália.

2. Juventude

Em certa altura, principalmente após a conquista do mundial em 1990, a “Mannschaft” foi criticada por ser uma selecção envelhecida, com evidentes dificuldades de recrutamento (leia-se rejuvenescimento) de novos talentos emergentes. No presente, esta aposta tem dado os seus frutos, numa interessante mescla com alguma experiência, como se prova através do bom desempenho do Bayern de Munique na época que findou. Olhemos a alguns números (idade) relativos à equipa principal: Neuer (24), Lahm (26), Friedrich (30), Mertesacker (25), Badstuber (21), Khedira (23), Schweinsteiger (25), Muller (20), Ozil (21), Podolski (24) e Klose (31). A média de idades é bastante simpática: 24,5 anos. Por sua vez, se trocarmos Klose (castigado) por Mario Gómez (24), então a média ainda desce para 23,9 anos. A juventude, e sede de vencer, representam uma marca deste selecção.

3. Talento

Voltemos ao ponto de partida. O futebol alemão (de selecções) sempre teve uma imagem de marca: a de uma equipa no relvado profundamente cerebral, concentrada, eficiente, objectiva, organizada e rigorosa. Os adjectivos são vastos. A versão 2010 não perdeu, necessariamente, nenhuma destas características, mas acrescentou outras de elevada capacidade. Principais responsáveis: Muller e Ozil, os magos germânicos. Ainda muito jovens, pertencentes à nova fornada alemã, apesar de serem diferentes na tendência de jogo, ambos partilham de mais-valias associadas a aptidões como engenho, habilidade, imaginação e vocação ofensiva. Liberdade criativa em movimento.

Em suma, a ‘máquina’ alemã mantém-se robusta, porém guarnecida com modernos conceitos de jogos apoiados numa concepção futebolística mais atractiva: um ‘gadget’ de última geração, personificado na “Mannschaft” de Low.

publicado por stadium às 11:46
Domingo, 20 DE Junho 2010

Football Fans Know Better

Escrever sobre a selecção brasileira é um acto de coragem. Com um percurso riquíssimo, recheado de vitórias e talentosos jogadores, acaba por ser inglório conceber um texto onde caibam êxitos e emoção à escala planetária. Assim, ao contrário dos artigos anteriores, esta crónica é mais extensa, pois ultrapassa os aspectos meramente tácticos ao contemplar episódios históricos que dão maior substância ao tema.

O Brasil, personificado em técnicos, jogadores, jornalistas e adeptos, de uma forma geral, vive um conflito que se prende com a sua cultura (de vitória) e história futebolística. Sendo capaz de brindar os amantes do futebol com um reportório estético de excelência, o país está habituado a conquistar mundiais: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Este palmarés e capital artístico representam um catalisador de enorme exigência por parte da opinião pública, implicando um clima de elevada pressão sobre a comitiva destacada na África do Sul. Para milhões de brasileiros, ganhar um Mundial (oferecendo espectáculo) é uma obrigação. Para um, em particular (Dunga), é uma dor de cabeça.

O seleccionador nacional vive no centro da polémica, com o peso da tradição a influenciar as suas convicções e modo de pensar o «jogo». Olhando para a história dos mundiais, é difícil suplantar aquele que, para muitos, foi eleita a melhor equipa nacional de todos os tempos: o Brasil de 1970, com ‘Rei’ Pelé em plano de destaque. Na mesma perspectiva, mas com resultados que cederam à imprevisibilidade deste desporto, Hungria (1954), Holanda (1974) e Brasil (1982) são também exemplos ilustrativos de como o futebol ‘romântico’ deixou uma marca eterna para gerações futuras. A recordação de um Futebol (com maiúscula) capaz de roçar a perfeição. Depois, outros casos, menos abonatórios do ponto de vista exibicional: a vitória do Brasil em 1994.

Deste modo, de quatro em quatro anos, a expectativa recai sobre o Brasil, parâmetro de qualidade e principal referência do futebol internacional. Os adeptos, na sua generalidade, questionam-se: que Brasil teremos? Uma aproximação à equipa vitoriosa, e talentosa, de 1970? Uma selecção magnífica, contudo desencontrada com o sucesso, como a de 1982? Uma fotocópia ao conjunto conservador, mas vencedor, de 1994? Há muitas formas de ganhar, mas para os brasileiros só existe uma: goleando na relva e sambando nas bancadas.

Dunga, um resultadista, escolheu a terceira via: optou por um modelo mais pragmático, preocupado essencialmente em defender e controlar o ritmo de jogo, atacando só pela certa. Alías, a escolha dos 23 ‘canarinhos’ refelecte esta forma de entender o futebol, pois vários artistas ficaram de fora da convocatória: Ronaldinho (AC Milan) e, principalmente, os «Meninos da Vila»: Ganso (20 anos), Neymar (18 anos) e André (19 anos), este recentemnete contratado ao Santos pelo Dínamo de Kiev. Porém, o selecionador brasileiro preferiu um trilho futebolístico substancialmente diferente, igualmente repleto de virtudes que merecem ser enumeradas:

1. A defesa ‘Nerazzurri’

No sector defensivo, Dunga foi inteligente ao seleccionar três campeões europeus ao serviço do Inter de Milão. Na baliza, Júlio César é garantia de segurança. No lado direito, a dupla constituída por Maicon e Lúcio fornece à equipa um sem número de aptidões que dão um toque extra de qualidade. Todos eles têm a experiência dos grandes palcos europeus, representando um ponto favorável para a eficácia e fluidez do modelo de jogo brasileiro.

2. A solidez do meio-campo

O cabeça de área Gilberto Silva, campeão do mundo em 2002, é daqueles jogadores com que qualquer treinador gosta de contar: discreto, mas suficientemente seguro e eficiente tacticamente nas acções que desenvolve. A sua experiência e serenidade são um capital de estabilidade colectivo que não merece ser menosprezado. Depois, uns metros mais à frente, Elano (ou Ramires) e Felipe Melo equilibram a equipa nos momentos de transição, sendo o suporte certo para as investidas dos laterais e para que os homens da frente tenham tempo, e espaço, para arriscar nos duelos individuais.

3. A magia dos ‘Playmakers’

Na frente de ataque, é verdade que Luís Fabiano fica aquém de outras grandes figuras do ‘escrete’, tanto no passdo, como em competições mais recentes. No entanto, a sua capacidade finalizadora depende muito de quem pensa e cria as oportunidades golo: os médios ofensivos Kaká e Robinho. O primeiro, numa zona mais central, típica de um organizador de jogo, é o eixo giratório de toda a produção ofensiva, inventando passes de ruptura em catadupa e manobrando a circulação de bola com mestria. O segundo, interpretando o papel de avançado móvel, munido dos seus dotes de malabarista, consegue descobrir o espaço mais escondido e criar inúmeros problemas à defensiva contrária.

Em resumo, este Brasil versão 2010 contará, naturalmente, com aspectos menos brilhantes do ponto de vista estético mas, no meu entender, não merece ser tão criticável no que diz respeito à sua estrutura táctica e abordagem do modelo de jogo. Posso estar enganado, mas o trabalho de Dunga apresenta condições sérias para chegar a resultados de sucesso. A questão principal é outra e prende-se com a filosofia de jogo que o seleccionador segue religiosamente: a sua obsessão com a ordem e disciplina pode fazer com que esteja mais próximo da vitória final; contudo, devido às suas ideias conservadoras, dificilmente esta equipa será lembrada como as suas antecessoras.

publicado por stadium às 11:55
Sexta-feira, 18 DE Junho 2010

Football Fans Know Better

Apontada como uma séria candidata ao pódio, a selecção inglesa defraudou uma enorme legião de adeptos, ao empatar no seu primeiro jogo do grupo C. Apesar do incrível ‘frango’ do guarda-redes Robert Green, o objectivo de ir longe na competição não está perdido e espera-se, somente, um acréscimo exibicional mais vincado. Neste sentido, a quilómetros de distância, aqui fica o meu recado para o homem (italiano) que lidera os destinos ingleses: um losango para Capello.

Ao contrário do post anterior, onde a imagem ilustrava o desenho táctico implementado por Maradona na estreia da Argentina, o grafismo que podem observar pretende representar uma possibilidade em aberto para os jogos seguintes, nomeadamente frente à Argélia. Um dos pecados apontados à Inglaterra prendeu-se com a rigidez do seu 4x4x4 clássico e na dificuldade dos médios (e avançados) jogarem próximos, em futebol apoiado e passível de criar rupturas na linha defensiva contrária. Assim, um sistema moldado em losango, poderia trazer vantagens acrescidas ao jogo inglês. Vejamos quais os factores positivos que estão em causa.

1. Triângulo Barry – Gerrard - Lampard

Vários analistas, como Luís Freitas Lobo, chamaram a atenção a sobreposição de funções entre Gerrard e Lampard, excessivamente centralizados no mesmo espaço. Efectivamente, tratam-se de dois jogadores de eleição, porém demasiado semelhantes nas características e forma de jogar. A entrada de Barry, como âncora do meio-campo, permitiria libertar os jogadores para acções de condução e organização colectiva. Com a seguinte ressalva: o capitão do Liverpool ficaria encarregue de zonas do relvado na meia-direita, enquanto o centrocampista do Chelsea pisaria terrenos no corredor contrário. Em suma, este triângulo sentir-se-ia confortável na gestão do ritmo de jogo e disfarçaria o choque táctico entre Gerrard e Lampard.

2. Liverpool, lado direito – Chelsea, lado esquerdo

Um aspecto raramente analisado, e exaltado, pela crítica futebolística, diz respeito às pequenas ‘sociedades’ que se podem identificar nas quatro linhas. É sabida a dificuldade que a grande maioria dos seleccionadores sofre, na tentativa de conciliar talento e personalidade em doses, por vezes, tão díspares. Ainda por cima, trata-se de um esforço realizado com os olhos nos ponteiros do relógio, devido ao escasso tempo de preparação. Na minha humilde opinião, encaro como um sinal de inteligência a transferência de sinergias vindas dos clubes de origem. No fundo, foi o que Scolari executou, no passado, ao apostar em jogadores que compunham a espinha-dorsal do FC Porto de José Mourinho. Ou, num caso mais recente, também com benefícios visíveis, a direcção escolhida pelo seleccionador alemão, ao eleger cinco atletas do Bayern de Munique para o onze titular (Lahm, Badstuber, Schweinsteiger, Muller e Klose). Por tudo isto, o esquema táctico que dá cor a esta crónica não foi pensado ao acaso: inclinado à direita, um trio chamado Liverpool (Johnson, Carragher e Gerrard); descaído para a esquerda, idêntico triângulo apelidado Chelsea (Cole, Terry e Lampard). Esquematizar um modelo de jogo com estas cumplicidades futebolísticas (pequenas ‘sociedades’) pode ser um óptimo ponto de partida para uma maior fluidez colectiva.

3. Joe Cole e a alternativa 4x3x3

O criativo médio inglês é o jogador indicado para assumir o papel de 10, de acordo com o número que enverga no Chelsea. Desconheço a sua condição física actual, mas o futebol latinizado de Joe Cole pode transmitir o toque de classe extra que a selecção inglesa necessita. Principalmente para, servindo de apoio vertical às investidas de Gerrard e Lampard, potenciar maior acutilância no assalto à defensiva contrária, através de passes de ruptura e diagonais curtas. Outro aspecto, não menos importante, diz respeito à maleabilidade táctica que a imagem esclarece, ou seja, com posse de bola, a presença de Joe Cole permite materializar um 4x3x3 (a seta para o lado esquerdo, junto ao triângulo ‘Chelsea’, não é inocente), com Rooney a gozar de maior liberdade na descoberta de espaços vazios e Heskey interpretando o papel principal de homem de referência.

publicado por stadium às 09:29
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