O jogo do bronze debaixo de uma tempestade. A chuva que foi transversal em relação a este Mundial, não poderia deixar de marcar presença no jogo de atribuição do 3º e 4º lugar da competição que amanhã termina.
Para a Alemanha era o 5º jogo de atribuição do terceiro lugar em mundiais, nunca ninguém jogou mais partidas que os germânicos nesta fase da competição, para os Uruguaios era a possibilidade de conseguir a sua 2ª melhor classificação de sempre. No entanto, convém recordar que o Uruguai já não vencia uma Selecção Europeia há 40 anos, a última em 1970 diante da União Soviética após prolongamento. Klose com 14 golos estava a 2 de Gerd Muller em todas as competições mundiais e europeias, a 1 de Ronaldo em mundiais, mas dores nas costas retiraram-no do jogo. Muller e Forlan não querem deixar Villa e Sneijder fugir na corrida ao melhor marcador do mundial.
A primeira parte tem domínio Alemão, o golo chegou cedo aos 18 minutos por Muller, 5º na competição, após remate de Schweinsteiger com a Jabulani a fazer das suas. São já 17 golos de recarga após defesas incompletas mais 10 que no mundial anterior. Minutos antes já Friedrich tinha enviado a bola à barra. A Alemanha estava claramente por cima, procurava o segundo golo mas por incrível que parecesse, quando perdia as bolas sentia dificuldades de posicionamento defensivo, não havia reorganização e os homens mais adiantados do Uruguai, Forlan, Cavani e Suarez apareciam em força. Cavani num desses lances empata a partida, aos 27 minutos e já perto do final Luís Suarez falha isolado em frente a Butt. Reforço que a Alemanha dominava em posse de bola, domínio territorial, mas as perdas de bola foram essências para o Uruguai empatar e causar calafrios à baliza germânica. Aceitava-se o empate na partida.
A segunda parte começa com o tridente Uruguaio novamente em acção. Suarez a tentar e Butt a negar, mas 2 minutos após esse momento Forlan marca um golaço, o da reviravolta, o 5º no mundial igualando Mueller. A Alemanha denotava os mesmo problemas com que finalizou a primeira parte. Mas viu o empate na partida cair-lhe do céu. Muslera novamente a errar, afinal o problema não é da Jabulani, e Jansen a marcar o 2º golo Alemão. Tudo empatado e ainda meia hora para jogar, uma partida box to box!
Suarez continuava a ser o quebra cabeças para a defesa Alemã, o homem aparecia em todo o lado, a rematar de qualquer forma e feitio. A Alemanha não era o equipa concentrada, claramente este não era o jogo que eles contavam estar a jogar, o calendário era para cumprir, apenas. Mas isto do futebol não é sempre 11 contra 11 e vitória da Alemanha, mas é quase e Khedira já perto do final marca o 3º da Alemanha e nova reviravolta no marcador e bronze à vista. Forlan ainda respondeu com bola à trave já em descontos. Vitória da Alemanha, repete o 3º lugar do último mundial, que sendo justo nesta crónica até poderia ter sido ao contrário, já que a segunda parte foi marcada pelas oportunidades perdidas do Uruguai, Forlan e Suarez nos primeiros minutos e pela resposta germânica já perto do final principalmente a partir da entrada de Kießling. No entanto há que referir que ambas as selecções tiveram boas prestações no Mundial de 2010!
Homem do jogo: Müller
Um homem de consciência, uma das muitas setas apontadas à crescente militarização da governação sul-americana nas décadas de 60 e 70, Daniel Viglietti esteve entre os pioneiros da Nueva Cancion, movimento folk sul-americano que tinha no chileno Victor Jara a sua expressão máxima. Após o golpe de Estado uruguaio de 1973, consequência directa de uma década de conflitos sociais e políticos, e perseguido pela forte carga ideológica das suas canções, Daniel Viglietti parte para o exílio, do qual regressaria apenas em 1984. Nesse período viveu entre a Argentina e Paris, empenhando-se na denúncia do regime de Bordaberry.
Bronze ou o "primeiro dos últimos" no jogo da ante-final (Uruguai - Alemanha; 19:30; Estádio Porth Elizabeth)
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O polvo Paul já decidiu quem vai ser o novo campeão do mundo. No aquário do Sea Life na Alemanha, o oráculo do mundial escolheu a selecção espanhola como campeã do mundo. Recordamos que este animal não tem falhado nas previsões. Para o lugar que resta no pódio, Paul escolheu a Alemanha. Venham de lá esses jogos para ver se o polvo é que percebe disto e depois quem sabe se não estará apto a substituir Blatter!
As duas equipas presentes nesta meia-final foram dignas da importância do desafio e deram um bom espectáculo nos noventa minutos da partida. À raça dos uruguaios e a sua capacidade de pressionar sem conseguir sair a jogar contrapuseram os holandeses na sua forma habitual atingir a baliza adversária com a bola no pé.
Mesmo com o golo memorável de van Bronckhorst não se sentia um ascendente Oranje na partida, muito pela forma voluntariosa que os sul-americanos preferiram na abordagem ao encontro. Não havia preocupação com a construção apoiada, antes pela recuperação e lançamento do ataque. Não fazia bem à beleza do jogo mas foi a forma válida que os de Tabárez utilizaram para agitar a defesa holandesa e enfim, marcar por Fórlan o empate na partida.
Questionava-me se a saída do trinco de Zeeuw por van der Vaart teria sido a melhor intervenção do treinador holandês, e as dúvidas adensavam-se com a melhor ocupação celeste de espaços no seu meio campo atacante e alguma indecisão, talvez adaptação, holandesa. Uma grande defesa de Stekelenburg como que despertou os homens dos Países Baixos. Há um momento em que os laranja retêm a bola mais de três minutos em sucessões de passes e desmarcações e sem nunca perder a bola nas imediações da área uruguaia. Soava o alarme e pouco depois, noutro momento colectivo e superlativo, o golo de Sneijder a abrir espaço para novo remate vitorioso de Robben. Parecia um jogo findo mas os uruguaios não baixaram os braços e ainda conseguiram reduzir a diferença por Maxi Pereira.
No final venceu quem mais passes acertou e saiu derrotada a equipa que não sairá desapontada com o seu comportamento no torneio.
Melhor em campo: 11 Arjen ROBBEN
Três semanas após o arranque do Mundial vivemos o dia mais intenso do Mundial com dois jogos daqueles que vão fazer parte dos momentos mais belos da edição 2010. À tarde uma reviravolta histórica da Holanda contra o eterno favorito Brasil que já foi muito bem contada ali mais para baixo.
De noite chegou o apaixonante embate entre os sobreviventes africanos contra os resistentes uruguaios. Foi um jogo memorável com um pouco de tudo, golos, imprevisibilidade, suspense, prolongamento, final dramático, e decisão nos penaltis. Pelo meio muito interessante as adaptações tácticas de ambas as equipas. O Uruguai partiu com o seu clássico 4-4-2 com os olhos postos em Forlan e Suarez na frente apoiados nas alas com Cavani à esquerda e a aposta surpreendente em Fernandez na direita.
O Gana com o 4-2-3-1 com Gyan na frente e com Asamoah a não conseguir pegar no jogo foi surpreendido pela maior veia atacante sul americana. Metade da 1ª etapa foi dominada pelo Uruguai que andou perto do golo tanto em jogadas de bola corrida como em lances de bola parada. Importa elogiar a exibição dos dois "portugueses" em campo, Fucile muito bem a defender e Maxi Pereira de pulmão cheio defendeu e atacou sempre cheio de garra. Os outros portugueses formaram a equipa de arbitragem liderada por Benquenrença e pode dizer-se que estiveram à altura do jogo.
E aos 30' de jogo o Gana acerta o seu jogo atacante em profundida com Prince Boateng mais perto de Gyan e Asamoah mais recuado ao lado daquele que é o melhor "6" deste mundial, Annan. Que enorme Mundial fez o jogador no meio campo do Gana! Houve hipóteses de golo para os africanos que dominaram até ao fim da 1ª parte e mesmo no último minuto Muntari arranca um inesperado pontapé do meio do campo que levou a famosa Jabulani a fazer uma caprichosa curva deixando Muslera mal na fotografia.
Na 2ª parte o jogo mudava de cara porque o Uruguai tinha de ser mais eficaz no seu ataque e como não conseguia de jogada corrida apareceu Forlan, uma das figuras maiores do Mundial, a marcar de livre directo repetindo-se a história do efeito Jabulani. O empate surgiu aos 55' e assim o jogo voltou a ficar equilibrado e totalmente com o resultado em aberto. Até ao fim dos 90' assistiu-se a uma perda de fôlego dos uruguaios contra uma invejável frescura física do Gana que acabou a dominar o jogo.
No prolongamento a tendência manteve-se com os africanos a parecerem sempre por cima do jogo embora o Uruguai nunca tenha desistido de atacar e tentar vencer o jogo.
E depois veio um daqueles finais que entram directamente para o top de melhores momentos de sempre que o futebol tem para nos oferecer. Presenciámos à construção de mais um capítulo épico de competição na maior prova do mundo. Ultimo minuto de jogo do prolongamento empate a 1, emoções ao alto última bola para área do Uruguai, defesa incompleta de Muslera remate à baliza para golo evitado pelas pernas de Suarez, recarga e agora bola alta direitinha para a o fundo da baliza, Fucile desesperado tenta lançar a mão mas não chega, logo atrás ainda estava Suarez na linha de golo que se transforma em guarda redes e faz uma bela defesa com as mãos a evitar o 2-1.
O avançado do Ajax vivia momentos dramáticos porque era expulso e oferecia de bandeja ao Gana a vitória. No entanto sabia que tinha feito a única coisa possível para adiar a derrota ali anunciada. Entre a tristeza uruguai havia uma réstia de esperança de ver Gyan falhar o penalti. Parecia impossível já que o Ganês até já levava dois golos marcados daquela maneira mas a verdade é que o "3" do Gana acusa a pressão e atira para a trave a possibilidade de África ter pela 1ª vez nas meias finais! E num segundo Suarez passava do estado desolado para a quase euforia que a esperança dos penaltis lhe dava.
E como se estava mesmo a ver a equipa do Gana caiu mesmo nem lhe valendo o facto de Gyan ter ido dar o exemplo ao abrir a cerimónia de desempate convertendo o seu penalti. Depois dele só mais um companheiro marcou golo. Os uruguaios moralizados com nova oportunidade de regressar a uma meia final 40 anos depois não vacilaram apesar do falhanço de Maxi Pereira que atirou por cima da baliza. O dramático desempate termina com um momento de ouro protagonizado pelo popular "El Loco" Abreu que , como é seu apanágio, marca à Panenka e fecha o desafio com esta imagem de marca.
Uruguai , última equipa a conseguir o apuramento, está nas meias finais para defrontar a Holanda. Gana fez história mas podia ter feito ainda mais como as lágrimas desesperadas de Gyan após o jogo testemunham.
Melhor em Campo: 9 Luis SUAREZ
Correndo o risco de errar na generalização, penso que a maioria dos apaixonados e conhecedores da história dos Mundiais estará satisfeito com o desfecho desta partida, mesmo que a idade não tenha permitido assistir às melhores prestações uruguaias. Mas a Celeste já teve um peso considerável nesta competição e não deixa de ser agradável vê-la regressar, 40 anos depois, aos quartos-de-final da prova. Mesmo que no jogo em apreço sobressaia uma certa injustiça.
O jogo de hoje, embora bem disputado, não chegou a atingir o nível que os primeiros minutos indiciavam. Uma bola no poste aos 4 minutos, num livre directo superiormente executado por Chu Young, e o golo de Suarez aos 8 criavam outro tipo de expectativas. Ainda assim foi um jogo bem interessante de se assistir.
O Uruguai chegou à vantagem num contra-ataque que parecia anulado pela pronta recuperação defensiva dos sul-coreanos, fazendo valer a força e a arte do seu trio atacante. Uma boa abertura de Cavani, Forlan trabalhou bem o lateral direito e centrou a baixa altura para o interior da pequena área. Estranhamente, Sung Ryong falhou a intercepção e Suarez aproveitou a distracção do defesa esquerdo para finalizar sem oposição e com a baliza deserta.
O pragmático Tabarez, sempre seguro nas suas decisões, ordenou o recuo das linhas e dificultou a vida aos sul-coreanos. Sem espaço para aplicar o seu principal trunfo, a velocidade, a Coreia do Sul teve que redefinir-se. Demorou até que conseguisse atingir a supremacia sobre o duro meio-campo da Celeste, mas acabou a primeira parte com ascendente que se manteria ao longo da segunda parte. O problema, comum no espaço geográfico em que se inserem, estava mais à frente. O futebol asiático evoluiu imensamente nos últimos anos, mas persistem os problemas de finalização. E só numa falha defensiva colectiva, agravada pela precipitação de Muslera, conseguiram chegar ao empate. Foi o primeiro golo sofrido pelo Uruguai neste Mundial.
A Coreia do Sul não perdeu o domínio das operações a meio-campo, mas se a dureza dos médios da Celeste colocam problemas na fase de construção, os avançados tratam de resolver. Bastou que a equipa subisse um pouco no terreno para que os avançados reentrassem no jogo. Suarez foi rápido a reagir, primeiro num remate colocado de ângulo difícil que obrigou Sung Ryong a aplicar-se, um minuto depois numa perdida clamorosa quando se encontrava isolado e a escassos metros da linha de golo. O avançado do Ajax não se deixou abater e cinco minutos depois sentenciou a partida com um excelente golo em remate no limite da área.
A Coreia do Sul, pelo que jogou, mereceria o prolongamento, mas o futebol não é dado a estas simpatias e o resultado acaba por espelhar o maior peso dos atacantes do Uruguai, que ficará agora à espera do desfecho entre ganeses e norte-americanos.
HOMEM DO JOGO: 9 Luis SUAREZ